A instalação artística “Lighted Jelly Fish”, de Bordalo II, é um dos momentos icónicos do Programa Cultural da Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, entre outras obras escolhidas por Portugal. Patente no edifício Europa, em Bruxelas, até ao fim de junho, a peça pretende refletir as preocupações com a poluição dos oceanos.

A obra encomendada a Artur Bordalo aborda o tema da produção de lixo, do desperdício, da poluição e dos seus efeitos no nosso planeta. A natureza, aqui simbolizada por uma espécie gigante de medusa, é representada com recurso àquilo que a destrói: materiais em fim de vida.

No foco do trabalho do artista continuam as temáticas ambientais

De entre os mais reconhecíveis corpos de trabalho de Bordalo II, seja pela mensagem, pela matéria-prima ou pela escala, destaca-se a série “Big Trash Animals”, em que o artista propõe um olhar crítico sobre os hábitos consumistas. Esta linha de pensamento sai reforçada na sua última sequência, “Lighted Plastic”, que pretende criticar a publicidade luminosa que apela ao consumo nas cidades.

 

E é nesta última que se insere a gigantesca medusa agora em exposição em Bruxelas. Um trabalho que incorpora lâmpadas LED e que foi feito com 80% de desperdício marinho, encontrado junto de rios e praias, do qual sobressaem, além de redes de pesca e cordas, um pato de borracha, uma boneca e uma sandália originalmente destinada ao uso por marinheiros.

Com “Lighted Jelly Fish”, Bordalo II pretende chamar a atenção, de forma ainda mais evidente, para a problemática dos plásticos nos oceanos. E, como consequência da pandemia, aos plásticos soma-se todo um novo conjunto de materiais, desde máscaras até luvas ou batas, que estão a ser lançados nos esgotos e na costa marítima, com grave prejuízo para o habitat natural dos animais marinhos.

 

A escolha de uma medusa para objeto artístico prende-se com a sua delicadeza, que contrasta com a obra finalizada. Ao representá-la com materiais em fim de ciclo, acrescentando-lhe luz, o artista pretende alertar para a urgência de estabelecer medidas e regras acessíveis a todos, para que consigamos evitar a catástrofe de tornar os oceanos num lugar sem vida.

A valorização do património cultural europeu, tal como a conservação e recuperação dos ecossistemas marinhos, são temas especialmente importantes para a Presidência Portuguesa, constituindo, ao longo do primeiro semestre de 2021, duas prioridades rumo a uma Europa verde, verdadeiramente ecológica.

A sua juventude desenrolou-se, precisamente, entre as horas passadas na companhia do avô e a sua incessante paixão pelas aguarelas, além das aventuras em torno dos graffiti ilegais no submundo da cidade de Lisboa. Os oito anos que frequentou na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa permitiram-lhe descobrir a escultura e experimentar uma variedade de materiais que o distanciaram da pintura.

 

O espaço público viria a ser o palco eleito para as suas explorações de cor e escala e a plataforma onde, gradualmente, foi transformando os seus hábitos e para a qual foi canalizando as suas vivências. Assim tem construído e desenvolvido o seu trabalho artístico, que atualmente se foca no questionamento da sociedade materialista e gananciosa de que faz (também) parte.

 

A produção excessiva de "coisas" ou o consumo exagerado, que resultam na contínua produção de "lixo" e, consequentemente, na destruição do nosso planeta, são os temas centrais da sua produção artística. Esse "lixo" assume-se como a inusitada e singular matéria-prima que usa na construção das peças de pequena ou grande escala que tem espalhado um pouco por todo o mundo e que, acima de tudo, pretendem ser veículo de um manifesto universal.