Encontrar o mobiliário típico de um café português numa das salas do 50.º piso do edifício Justus Lipsius, em Bruxelas, é inédito, mas pretende chamar a atenção para o papel dos cafés na construção das sociedades democráticas da Europa.
As cadeiras e mesas em madeira Portuguese Roots, os tapetes em burel e os candeeiros Tower Eye recriam um ambiente de diálogo, de encontro, de partilha, de reflexão, de escrita e de intimismo.
Portuguese Roots: a recriação de um ícone
As cadeiras Portuguese Roots, desenhadas pelo designer Alexandre Caldas, em colaboração com o Mestre Serafim, reinventam em madeira a cadeira de metal criada pelo Mestre Serralheiro Gonçalo Rodrigues dos Santos nos finais da década de 1940. Originalmente fabricada, em chapa e tubo de ferro dobrado, para os cafés e as esplanadas de Lisboa, nomeadamente o Café Nicola e A Brasileira, a cadeira do Mestre Gonçalo espalhou-se por Portugal e pelo mundo, tornando-se um ícone da produção industrial portuguesa.
As cadeiras Portuguese Roots recuperam esta herança e potencializam o conforto e a ergonomia através do recurso às madeiras e às cortiças. Estas cadeiras, em associação com as mesas Portuguese Roots, também inspiradas no design original da mesa metálica de esplanada dos anos de 1950, recriam o desejado ambiente de café nesta sala do edifício.
Fundada pelo designer Alexandre Caldas e a profissional de marketing Soraia Rangel, a Around the Tree alia a inovação tecnológica, a preservação da tradição do mobiliário português e o respeito pelos recursos naturais. Inspirada na natureza, e tendo a madeira maciça como principal matéria-prima, fabrica peças que se distinguem pela seleção e qualidade dos materiais utilizados e pela mestria da sua manufatura, oferecendo alta qualidade, funcionalidade e durabilidade.
Burel: do pastorício para o quotidiano
Dois tapetes em burel, com drapeado em cruz e ponto leiva, ambos da Burel Factory, traduzem a versatilidade desta lã 100% natural e o processo de renovação de modelos e técnicas que tem vindo a decorrer durante os últimos anos em Portugal. Tradicionalmente usado em capas e casacos pelos pastores das terras mais altas e frias de Portugal, este tecido ancestral, de elevada resistência e robustez, foi recuperado e tem vindo a ser adaptado para novas utilizações, oferendo uma vasta gama de modelos, texturas, padrões, aplicações e cores. Entre as vantagens do burel, destacam-se:
- ser um excelente isolante acústico (reduzindo a reverberação do som, limitando a sua propagação e aumentando a qualidade do ambiente)
- ser de fácil manutenção
- ter elevada qualidade térmica e elevado valor estético
É assim um material adequado para o revestimento de interiores.
A Burel Factory foi fundada, em 2006, pelos empresários Isabel Costa e João Tomás, com o intuito de recuperar o património material e imaterial ligado à produção fabril da Serra da Estrela. Recuperando maquinaria do século XIX, estes empresários têm fomentado a colaboração entre antigos mestres dos teares, designers e criativos, reciclando padrões antigos, renovando modelos, aplicando novas cores ao burel e inventando novas aplicações que expandem a sua utilização.
Normalmente utilizado como matéria de revestimento de superfícies interiores e exteriores, o azulejo tem sido objeto das mais variadas aplicações, servindo de inspiração às artes e ao design. A tecnologia utilizada neste candeeiro permite regular a luz, enquanto o motivo decorativo individualiza os diferentes espaços que ilumina.
A Exporlux, fundada em 1987, é uma das marcas de referência do sector da iluminação técnica interior, exterior e pública. Com um centro de investigação e desenvolvimento nas áreas de ótica, eletrónica e fontes luminosas, esta empresa tem procurado desenvolver novas formas de iluminação que reduzam o consumo energético e utilizem racionalmente os recursos.
A maioria das pessoas deixou de ver os cafés como locais de encontro e de partilha criativa. Com esta intervenção, a curadora Bárbara Coutinho, diretora do MUDE, evoca o café como lugar de interação, discussão, partilha e escuta do outro, numa experiência individual ou em grupo valorizando “a dimensão antropológica do lugar e a cumplicidade humana na cultura, na educação, na política, nas artes, nas ciências, no pensamento”, mas sem descurar a perspetiva de sustentabilidade ecológica dos materiais que renova o ambiente destes lugares.