A exposição “A Liberdade e a Europa: Uma construção de todos”, organizada pela Presidência Portuguesa do Conselho da União Europeia, coloca em diálogo duas importantes coleções de arte: a Coleção de Arte Contemporânea do Estado Português e a Coleção do Parlamento Europeu.
Patente no Parlamento Europeu, em Bruxelas, a mostra inclui um conjunto de obras de diversos artistas e géneros, proporcionando ainda uma visão das principais características da arte portuguesa contemporânea.
Muitas das peças datam da década de 1980, altura em que Portugal se tornou membro da União Europeia
O título que norteou a seleção evoca dois valores estruturantes da construção europeia: a ideia de liberdade (seja de expressão, de circulação ou de afirmação da dignidade humana) e a ideia de uma Europa assente no primado destes mesmos valores.
A maioria dos artistas representados nesta mostra – onde se incluem Maria Helena Vieira da Silva, Paula Rego, Lourdes Castro, Nikias Skapinakis, Joaquim Rodrigo, Julião Sarmento e Helena Almeida – defenderam uma ideia de Europa, fosse nas diversas etapas da sua formação artística ou na consciencialização de uma proximidade física e cultural dos povos que definem o mosaico europeu.
Um futuro mais livre e de partilha comum
Os trabalhos, datados na sua maioria dos anos 60, 70 e 80 do século XX, dão prova dessa leitura atenta sobre o valor da liberdade na construção de uma Europa que estrutura e ajuda a definir o nosso futuro. Também por isso, a seleção dos artistas representa uma homenagem a quem foi privado da modernidade europeia e dos seus valores, mas que nunca deixou de acreditar num futuro mais livre e de partilha comum.
Com esta criteriosa seleção, foi sua intenção impulsionar a interação social através da dimensão estética, relembrado que as exposições — especialmente as de arte contemporânea — promovem “momentos de discussão e debate público, em interação com as propostas artísticas”.
Em torno de um conjunto de 20 objetos, pertencentes, em partes iguais, à Coleção do Parlamento Europeu e à Coleção de Arte Contemporânea do Estado Português, a curadoria definiu um jogo de combinação estética, reflexiva e emocional, cujo aparato é ele próprio o resultado da liberdade que define a sua ação no espaço europeu em que vivemos.
Deste modo, pode-se observar como a liberdade de cada um implica sempre com a liberdade de todos, exigindo-nos a cada dia a sua defesa, mas também o seu uso consciente e responsável. Só assim, segundo David Santos, “poderemos continuar a construir uma Europa de valores, livre e solidária”.
Entre as peças patentes, destacam-se duas obras sobre papel de Helena Almeida, uma das artistas portuguesas mais internacionais, a pintura de grandes dimensões de Eduardo Batarda, o minimalismo monocromático do célebre Ângelo de Sousa, a enorme tela de Vítor Pomar e a obra representativa do artista multidisciplinar Julião Sarmento.
Na escultura, Rui Chafes, Rui Sanches e José de Guimarães apresentam igualmente peças dos anos 1980 e 1990, que são testemunho do seu estilo único e pessoal.
Além das obras da Coleção de Arte Contemporânea do Parlamento Europeu, foi selecionado um conjunto de obras da Coleção de Arte Contemporânea do Estado Português, com destaque para Fernando Calhau, Lourdes Castro, Jorge Martins, Pedro Calapez, Paula Rego e Joaquim Rodrigo.
Assim, o tema da exposição articula-se em torno da ideia de liberdade, encarada como um dever e uma responsabilidade partilhada por todos os países que compõem a UE. Exemplos manifestos disso mesmo são as letras da palavra Liberdade, que pendem dos ramos de uma árvore no quadro com o mesmo nome de Vieira da Silva, ao passo que “Enlevo de Miss Europa”, de Nikias Skapinakis, evoca com humor pop o mito do rapto da princesa fenícia.